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quarta-feira, 4 de maio de 2011

RESENHA CRÍTICA: O CONHECIMENTO PARA LOCKE

Referências: LOCKE, J. Ensaio sobre o Entendimento Humano. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

John Locke (1632-1704), está entre os filósofos empiristas, assim chamados devido a abrirem espaço para a ciência junto à filosofia, valorizando a experiência como fonte de conhecimento. John Locke destaca-se pela sua teoria das ideias e pelo seu postulado da legitimidade da propriedade inserido na sua teoria social e política. Para ele, o direito de propriedade é a base da liberdade humana. O governo existe para proteger esse direito.
Locke interessa-se para tópicos tradicionais da filosofia: o Eu, o Mundo, Deus e as bases do conhecimento. É contemporâneo de Thomas Hobbes, mas, ao contrário deste, é liberal e tem convicções parlamentaristas. Foi enorme a influência da obra de Locke. Suas teses estão na base das democracias liberais. No século XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais ideias responsáveis pela Revolução Francesa. Montesquieu (1689-1775) inspira-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes. A mesma influencia encontra-se nos pensadores americanos que colaboraram para a declaração da independência americana em 1776.
A origem das ideias. A principal preocupação de Locke em sua teoria do conhecimento é combater doutrina difundida por Descartes, da existência de ideias inatas na mente do homem. Para Locke a mente humana era como uma folha em branco que receberia impressões através dos sentidos a partir das experiências do indivíduo, sem trazer consigo, do nascimento, quaisquer ideias tais como a de extensão, de perfeição e outras, como pretende Descartes. Diz Locke, no parágrafo 3 do Capítulo 2, Das ideias simples, do livro II, do seu Ensaio sobre o entendimento humano: “[...] Somente são imagináveis as qualidades que afetam aos sentidos […] E si a humanidade houvesse sido dotada de tão somente quatro sentidos, então, as qualidades que são o objeto do quinto sentido estariam tão afastadas de nossa noticia, de nossa imaginação e de nossa concepção, como podem estar agora as que poderiam pertencer a um sexto, sétimo ou oitavo sentidos, que talvez existam em outras criaturas em alguma outra parte deste dilatado e maravilhoso universo.” Então todas as ideias vêm ou da experiência de sensação ou da experiência de reflexão.
Ao iniciar o primeiro livro da obra Ensaio acerca do Entendimento Humano, na intitulação do item primeiro, diz que a maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. Ao dizer qualquer conhecimento, Locke está absolutamente convencido de que não há nenhum tipo de ideia que possa estar contida na mente humana, de forma inata. Parte dessa tese, seguro da coerência de seu pensamento, mesmo que provido de grande modéstia, Locke se empenha no intuito de demonstrar que todo e qualquer conhecimento provém da experiência e isso equivale a provar a impossibilidade do inatismo como fonte de todo e qualquer conhecimento.
A princípio estabelece seu intento, que, segundo ele, consiste em mostrar como os homens, simplesmente pelo uso de suas faculdades naturais, podem adquirir todo conhecimento que possuem sem a ajuda de quaisquer impressões inatas e podem alcançar a certeza sem quaisquer destas noções ou princípios originais. Trazendo pontos doutrinais característicos do pensamento inatista, – princípios práticos, regras e injunções morais com os quais supostamente teríamos nascido e os trazido ao mundo como princípios verdadeiros, – Locke faz uma abordagem desses supostos princípios ou verdades, até então irrefutáveis, devido à influência dessa mesma corrente filosófica. Inicia a sua tese, tentando mostrar que o conhecimento só pode provir da experiência, numa tentativa de contradizer os argumentos defendidos pelos inatistas.
Os princípios pretensamente inatos eram de duas espécies. A primeira e mais importante (por indicar o enfoque daqueles numerosos autores cujos panfletos Locke tinha em mente) é a que engloba aqueles princípios morais práticos que nos dizem o que fazer, como deve-se agir; a outra espécie de princípios considerados inatos são os lógicos ou usualmente chamados especulativos, a que Locke refere-se como aqueles princípios ampliados de demonstração, o que é, é, e é impossível para a mesma coisa ser e não ser.
Locke refere-se ao modo de pensar inatista em relação a esses princípios, constatando que, pelo fato de todos os homens concordarem universalmente com tais princípios, afirmam que, essas impressões, são inseridas na alma humana antes do nascimento e transportadas ao mundo em forma de conhecimento.
A seguir, surge o que se pode chamar de primeira antítese da crítica na obra, onde Locke procura contradizer o argumento inatista. Segundo ele, o fato dos homens concordarem universalmente sobre uma determinada coisa, não prova em nada que essa mesma coisa seja de origem inata, pois Locke tem plena certeza de que pode haver muitas outras maneiras de se estabelecer acordos universais entre os homens. Locke afirma que o pensamento inatista leva a entender que, se a razão contém ideias que são conhecidas pelos sujeitos, porém ainda não lhes foram apresentadas, é certo dizer que os homens as conhecem e não as conhecem ao mesmo tempo, e isso é inaceitável. Ainda nessa mesma passagem Locke deixa claro sua aceitação quanto à capacidade de conhecer ser inata. Em seguida, logo afirma que o conhecimento é adquirido, pois, segundo ele, a maneira de adquiri-lo já prova que não são inatas as ideias adquiridas, visto que, se são adquiridas, não poderiam estar contidas na mente antes de serem aprendidas.
O objetivo de Locke, em todo o capítulo I, é demonstrar que as máximas especulativas não são assentidas universalmente por todos os homens, pois se fosse o contrário, todos os seres humanos teriam que conhecer essas ideias e isso não ocorre na realidade.
No capítulo II, a intenção de Locke é deixar claro que os princípios práticos, ou seja, aqueles que regulam nossas ações cotidianas, também não podem ser usados como argumento para provar o inatismo. Locke nomeia dois princípios práticos, a saber, a fé e a justiça. Para Locke, a justiça não deve ser vista como um princípio prático inato, pois, de acordo com ele, existem alguns homens que quebram as regras de boa conduta, mas agem justamente entre os seus comparsas. Locke reconhece a grande variedade de regras morais estabelecidas entre os homens e que essas foram propostas e impostas, por eles a eles mesmos. O que o filósofo em questão pretende esclarecer é que os homens são os únicos responsáveis pela existência desses princípios – adágios, ditos, crendices, etc. – que permeiam nosso cotidiano. De acordo com ele, esses princípios práticos que ordenam nossas vidas, ou seja, conselhos, ditados, normas, dogmas, entre outros, são provenientes de tradições populares e de tal forma devem ser examinados e postos à prova da dúvida.
Locke, no capítulo III, retoma as teses argumentativas dos pontos de objeção já apresentados nos dois capítulos anteriores. Ele dirá, logo no início, que os princípios não são inatos, pois, se as ideias das quais são formadas estas verdades não fossem inatas, seria impossível que as proposições formadas delas pudessem ser inatas, ou nosso conhecimento delas ter nascido conosco. Locke faz referência à ideia de Deus e a de substância, diz que as mesmas não podem ser inatas, pois há muitas pessoas que carecem da ideia de Deus e há também lugares em que não existe noção alguma de Deus. Para Locke, substância nada significa, a não ser uma proposição incerta disto que não se sabe o que, isto é, de algo acerca do qual não tem-se nenhuma ideia positiva particular e distinta, que julga-se ser suporte, destas ideias que se conhecemos. Locke argumenta que não pode haver nenhum tipo de ideias inatas na memória, seja qual for a ideia que exista na mente, ou é uma percepção atual ou, tendo sido uma percepção atual, está de tal modo na mente que através da memória pode ser de novo transformada em percepção atual.
No livro II, trata do que significa ideia. A partir daí já se tem o que pode-se chamar de conceito geral de ideia para Locke. Sendo este o termo mais indicado para significar qualquer coisa que consiste no objeto do entendimento quando o homem pensa. Afirma, pois, que a ideia é o objeto do pensamento. Locke desmembra esse conceito partindo do questionamento principal, a saber, “como elas são apreendidas?” A solução será assentar a sua gênese na sensação e na reflexão, ou seja, na experiência externa e interna. Mas o que significa, especificamente, dizer que as ideias provêm da experiência? Todo o nosso conhecimento está nela (experiência) fundado, e dela (experiência) deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Locke, portanto, a busca por um novo modo de entender como as inúmeras ideias penetram em nossas mentes, e são capazes de conceder-nos tão variado estoque de conhecimento.
Em suma pode-se, em linhas gerais, do estudo dos livros I e II, concluir que os pontos principais da teoria de John Locke, parte da crítica ao inatismo, seguindo-se a concepção de ideia, o conceito de ideia em geral e sua gênese. A sua crítica à concepção das ideias inatas culmina na evidência da não existência de caracteres originais impressos na mente. Acerca da concepção de ideia, tem-se primeiramente que ela se refere a todo e qualquer conteúdo mental, ou seja, ideia é, para Locke, todo e qualquer objeto do pensamento. Nesse sentido, ao mostrar como ocorre o procedimento do entendimento na aquisição de ideias. Além de dar uma nova visão da capacidade cognitiva humana, Locke proporciona uma maneira de pensar tão exaltada contemporaneamente, a saber, a visão crítica do que os outros pensam.

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