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sábado, 4 de junho de 2011

O materialismo histórico de Marx


Materialismo histórico é o termo que Marx designa o método de interpretação histórica, e que consiste em interpretar os acontecimentos históricos como fundados em fatores econômico-sociais (técnicas de trabalho e de produção/ relações de trabalho e de produção). O fundamento básico está ancorado na perspectiva antropológica marxista, que concebe a natureza humana como intrinsecamente constituída por relações de trabalho e de produção que os homens estabelecem entre si com vistas à satisfação de suas necessidades. Nesse sentido, a tese, ao meu ver, segundo a qual as formas historicamente assumidas pelas sociedades humanas dependem das relações econômicas que prevalecem durante as fases que conformam o seu processo de desenvolvimento, constitui uma proposição fundamental para o materialismo histórico.
O termo materialismo aplicado ao método proposto por Marx quer indicar que ele se encontra vinculado a uma corrente filosófica que se pode designar genericamente com esse termo. Esse termo é utilizado para designar toda doutrina filosófica que atribui causalidade à matéria. Dentro, então, dessa perspectiva, o materialismo histórico, desde o momento em que funda a natureza humana e as formas históricas da sociedades nas relações de trabalho concretas, diversas e mutantes, isto é, materiais, posiciona-se contra o idealismo e, por conseguinte, não admite que o Espírito (ou as formas ideais/ideativas) possa ser designado como sendo o princípio de organização da totalidade social. A dimensão histórica desse materialismo decorre exatamente do fato de ele assumir que a produção historicamente diversa da vida material condiciona, em geral, a produção da vida social, política e espiritual.
O tratamento dado por Marx às questões que haviam sido alvo da atenção dos economistas clássicos. Estes definiram como objeto de estudo a produção, a distribuição e o consumo das riquezas produzidas em nível nacional e nesse estudo utilizaram categorias como valor, propriedade, trabalho, população, nação.
Segundo Marx, os economistas concebiam tais categorias como abstrações constituindo verdades eternas e, por conseguinte, não percebiam que a produção de uma categoria se dá a partir do real, do concreto que é a produção social da vida.
Ao pensarem as categorias de modo abstrato, os economistas constituíram-nas como racionais e universais, muito embora tenham sido construídas a partir de uma sociedade historicamente determinada, a sociedade capitalista, cujas características definem um determinado modo de produção. O objetivo da critica de Marx à economia clássica foi exatamente em fundar o tratamento científico das questões elaboradas pelos economistas clássicos. Para tanto, foi necessário construir categorias capazes de dar conta das dimensão particular e especificamente histórica das sociedades capitalistas e de seu modo de produção.
Marx indica que a satisfação das necessidades humanas não é apenas uma entre outras atividades, mas constitui a condição fundamental de toda a história. Assim, ao transformarem, pela produção, matéria-prima em matéria humanamente utilizável, os homens não apenas satisfazem necessidades como também engendram relações sociais, através das quais se relacionam entre si e com a própria natureza.
A teoria marxista opõe-se, então, a toda a forma idealista de pensamento, ou seja, àquelas formas que pretendem dar o primado teórico ao pensamento, à razão, ao espírito, vistos como realidade primeira, em detrimento das relações sociais, particularmente das relações sociais de produção. Nesse sentido, o materialismo histórico afirma que os fenômenos intelectuais, artísticos, políticos e jurídicos constituem uma superestrutura determinada em última instância pela infraestrutura econômica. Assim, sendo, os fatores econômicos constituem a realidade primeira. Essa concepção chama-se materialismo exatamente porque concebe o elemento material (infraestrutura econômica) como sendo o fundamento. Esse materialismo é histórico porque concebe a formação da infraestrutura e de modo de produção como historicamente determinados.
Portanto, pode-se dizer, que ao afirmar que o fator infraestrutural é determinante em última instância, o materialismo histórico não pretende sugerir que o econômico seja o único determinante. Além do fato de que a produção de ideias e das representações incindir sobre a atividade material do homem, é preciso também considerar que os fatores superestruturais podem muito bem assumir o primado na determinação da forma das lutas históricas.
Assim como Hegel, Marx utiliza o método dialético na construção de sua teoria. Embora não se deva subestimar a importância de Hegel para o pensamento moderno, Marx faz questão de frisar que o seu método dialético é a antítese da dialética hegeliana. Isso porque a dialética na sua forma não-mistificada, racional, tal como ele a usa, é crítica e revolucionária, possibilitando perceber que a realidade é complexa e que não pode ser compreendida, por exemplo, a partir das abstrações dos economistas clássicos, os quais cedem à aparência de oposição que existe entre o consumo e a produção, que na realidade são indissociáveis.

SUGESTÕES PARA ESCREVER UM ENSAIO FILOSÓFICO

Prof. Dr. Darlei Dall'Agnol

Não existe um receituário pronto e acabado ou alguma fórmula mágica para fazer filosofia, mas algumas dicas são úteis. Antes de sugeri-las, gostaria de esclarecer algo fundamental a respeito da natureza específica da atividade filosófica. Para escrever um bom trabalho filosófico, por exemplo, um ensaio para uma disciplina (deixando, aqui, a dissertação de mestrado e a tese de doutorado de lado), é necessário ter presente que a filosofia é uma forma de conhecimento sui generis e possui certas especificidades. Algumas delas serão brevemente discutidas a seguir.
Os conceitos são o instrumento básico do filósofo. Por isso, é necessário buscar definições precisas dos termos e das expressões usadas. Muitas das confusões que surgem nas discussões filosóficas são o resultado da falta de clareza sobre o significado dos termos usados. Por isso, é sempre aconselhável deixar claro, ao possível leitor do trabalho, como as palavras estão sendo usadas.
A filosofia expressa-se por argumentos. Um argumento é, grosso modo, uma estrutura de raciocínio que contem premissas e conclusão. Com ele pretendemos sustentar uma opinião. Isto quer dizer que boa parte do tempo dedicado ao filosofiar deve consistir em tentar encontrar razões convincentes para acreditar ou não em algo. Qualquer texto filosófico, seja um simples ensaio ou até mesmo um livro, deve conter uma determinada reivindicação e a sua defesa. Isto pode ter diferentes desdobramentos: pode-se enunciar uma tese e tentar defendê-la; pode-se tentar refutar um argumento apresentado por um filosófo; pode-se tentar refutar uma refutação, etc...
É sempre aconselhável analisar cuidadosamente os argumentos. Algumas dicas são valiosas: examine se a conclusão que um autor quer tirar realmente segue-se das premissas empregadas; avalie se as premissas são plausíveis e, por conseguitne, aceitáveis; procure por possíveis contradições e incoerências de uma posição filosófica; tente encontrar contra-exemplos às generalizações feitas pelos autores; etc...
Tendo feito estas breves observações sobre a natureza da atividade filosófica, aqui vão algumas dicas formais sobre a elaboração do ensaio:
a) escolha um tema que você goste de estudar;
b) num trabalho de graduação, é recomendável que se escreva a partir de um filósofo ou de um tópico muito bem delimitado. Assim, uma maneira interessante de começar um trabalho é reconstruir um argumento de um autor sobre um tema qualquer. Ele pode ser o ponto de partida para o seu próprio argumento, seja para defendê-lo, seja para criticá-lo. Mas é importante notar que um argumento de um autor pode ser vago ou ambigüo (algo que você deve evitar a todo custo) e por isso será necessário fazer uma interpretação cuidadosa do texto;
c) procure sempre discutir um ponto específico e não tente dar conta de uma multiplicidade de temas;
d) planeje seus trabalhos; procure seguir os seguintes passos: escolha um tema; delimite um problema; estabeleça objetivos; rascunhe uma estratégia argumentativa; tenha claro o que você pretende mostrar; etc...
e) estruture seu ensaio de tal forma que na introdução apareça o problema, os objetivos, a justificativa (isto é, a relevância filosófica); no desenvolvimento, as diversas partes do seu argumento (por exemplo, na primeira parte faça a reconstrução de uma posição filosófica e na segunda parte analise a recepção de tal posição) e na conclusão sua visão pessoal, porém não subjetiva, das idéias discutidas;
f) faça uma revisão bibliográfica sobre o tema (evite excesso de comentadores -escolha os melhores- e conheça bem os que usar);
g) escreva de forma clara. Não tenha medo de escrever de forma simples. Mesmo as grandes idéias podem e devem ser enunciadas claramente. Não confunda filosofia com especulações vazias, livre associações ou expressões absurdas. Construa sentenças curtas e plenas de sentido;
h) pense em cada parágrafo de tal forma que a idéia central apareça na primeira linha, a argumentação no meio e a conclusão na última sentença;
i) para a apresentação e as referências bibliográficas siga a ABNT

Poética e Crítica



Usados no sentido de reflexão a Poética e a Crítica, não podem e nem devem ser entendidos como integrantes da Estética, por assumirem o caráter de experiência artística. A Poética e a Crítica, são de vital importância, tanto para o artista, no caso da Poética quanto ao apreciador da obra, que deve utilizar-se da Crítica, para melhor avaliação da obra. E é esse caráter normativo da Poética que apresenta à Crítica o contexto histórico em que a obra foi produzida.
A Crítica com seu caráter valorativo, é ela que vai diferenciar aquele que se sobressai, valorizando a obra, em resumo, a Crítica avalia o talento, diferencia por exemplo a Monalisa de Da Vinci da Monalisa de um pintor de calçada.
A Estética assume o caráter especulativo, não cita regras como a Poética, e nem atribui valor a arte. Não cabe a Estética, como filosofia inteira, interferir de nenhuma forma ao trabalho artístico, pois se houvesse interferência, seria para ditar leis ao artista, de forma como se fosse o lesgislar.
Deve-se deixar claro, que a Estética não é Metafísica. O papel assumido pela Estética é entre a filosofia e a história da arte. Pensa, conceitua, discute, trata da percepção. Fornece ao artista e ao crítico e a Poética, a capacidade de discernir as suas funções, mesmo não fornecendo normas. A Estética se coloca como uma ferramenta indispensável, tanto para o artista quanto para o filósofo, causando forte influência sobre o gosto. Mas há que se ter claro, que não de deve entender a Crítica como Estética. A principal diferença é que a Crítica não é filosofia, ao crítico cabe analisar e dar pura e simplesmente caráter valorativo à obra de arte.
Entre a Estética e a arte não deve haver intermediações, afinal a Estética, como dito anteriormente, trata da percepção do artista. Para a Estética não há qualquer tipo de distinção, se é obra de um artista de renome ou de um artista que pinta e escreve sua arte por hobby, para o estético importa apenas o que seja arte. Dessa forma o artista abstém-se de qualquer polêmica com relação ao gosto, deve-se manter imparcial não permitindo que seu gosto o influencie, além do princípio de sua teoria.
No que disso respeito ao crítico, tem-se que a avaliação sempre utiliza-se da interpretação, que por sua vez, condicionada ao gosto. Ao crítico cabe o cuidado de não permitir que seu gosto pessoal interfira na sua avaliação.
O modo de agir do estético, nas questões poéticas é de definir conceitos, o que para o crítico isso é muito importante porque permite que haja uma captação da intensão do artista, daquilo que ele quis passar ao público com a escolha do tema. E, para que se tenha um melhor julgamento da obra em si, deve-se considerar a obra como realização poética, e assim, não julgar a obra baseando-se no próprio gosto, abandonar qualquer tipo de critério externo, avaliando-se a própria obra em si, na sua essência.

Referências Bibliográficas



PAREYSON, L. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Estética algumas abordagens


A Estética é uma das disciplinas tradicionais da filosofia, que aborda um conjunto de problemas e conceitos por vezes muito diferentes entre si. A estética começou por ser sobretudo uma TEORIA DO BELO, depois passou a ser entendida como TEORIA DO GOSTO e nos nossos dias é predominantemente identificada com a FILOSOFIA DA ARTE.
Há fortes razões para considerar que estas três formas de encarar a estética não são apenas diferentes maneiras de abordar os mesmos problemas. É certo que gostamos de coisas belas que também são arte, mas não deixa de ser verdade que as coisas que consideramos belas, aquelas de que gostamos e as que são arte, formam conjuntos distintos. Afinal, até é banal gostarmos de coisas que não são belas e muito menos arte; assim como podemos nomear obras de arte de que não gostamos nem consideramos belas.
Enquanto teoria do belo, a estética defronta-se com problemas como "O que é o belo?" e "Como chegamos a saber o que é o belo?". Estas são perguntas que já Platão colocava no séc. IV a.C. e que só indirectamente diziam respeito à arte, pois a arte consistia, para ele, na imitação das coisas belas. Razão pela qual Platão tinha uma opinião desfavorável à arte, ao contrário do seu contemporâneo Aristóteles, para quem a imitação de coisas belas tinha os seus próprios méritos.
Já para os filósofos do séc. XVIII, como Davis Hume e Imanuel Kant, é no campo da subjectividade que se encontra a resposta para o problema do belo. A estética transformou-se, assim, em teoria do gosto, cujo problema central passou a ser o de saber como justificamos os nossos gostos. O SUBJETIVISMO ESTÉTICO é a doutrina defendida por estes dois filósofos, embora com tonalidades diferentes. A doutrina rival é o OBJETIVISMO ESTÉTICO e é bem representado pelo filósofo americano contemporâneo Monroe Beardsley (1915–85), para quem o belo não depende dos gostos pessoais, mas da existência de certas características nas próprias coisas.
Finalmente, as revoluções artísticas dos dois últimos séculos, ao alargar de tal modo o universo de objectos que passaram a ser catalogados como arte, acabaram por despertar nos filósofos vários problemas que se tornaram o centro das disputas estéticas. É o caso dos problemas de filosofia da arte como "O que é arte?" e "Qual o valor da arte?", entre outros. Quanto ao problema da definição de arte, há três tipos de teorias: as essencialistas — teorias da representação, da expressão e formalista —, as não-essencialistas — teorias institucionais, de filósofos como o americano George Dickie (n. 1936) — e as que, inspiradas no filósofo austríaco WITTGENSTEIN, consideram ser impossível definir "arte". Relativamente ao problema do valor da arte, encontramos dois tipos de teorias: as que defendem que a arte tem valor em si — teorias da arte pela arte, tendo Oscar Wilde (1854–1900) como defensor mais conhecido — e as que defendem que a arte tem valor porque tem uma função (teorias funcionalistas), seja ela social, moral, terapêutica, lúdica ou cognitiva. A função cognitiva é das mais discutidas e o filósofo americano contemporâneo Nelson Goodman é um dos seus mais importantes defensores, considerando a arte uma importante forma de conhecimento.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Resumo do Górgias de Platão


O diálogo inicia-se com a chegada de Sócrates e Querefonte a casa de Cálicles, que pretendem, efetivamente, interrogá-lo acerca daquilo que ele é, já que desejam ser esclarecidos sobre a arte que Górgias exerce e, consequentemente, acerca do nome que lhe devem atribuir – «A minha intenção é perguntar-lhe Sócrates, qual é a virtude própria da sua arte e que arte é essa que ensina e professa. Verifica-se, perante estas duas problematizações colocadas pelo mestre da filosofia, a saber, a moral (qual a virtude da arte de Górgias) e a lógica (definição da retórica), o início de um confronto de argumentos, onde se diferenciam dois grupos distintos: o primeiro constituído por Górgias, Polo e Cálicles (defensores da retórica) e outro por Sócrates e Querefonte (no território da Filosofia). Durante o diálogo, Górgias, Polo e Cálicles vão elaborando definições, um tanto subjetivas e pouco rigorosas, da arte por eles praticada. O primeiro a fazê-lo é Polo que começa por se referir às experiências, afirmando que estas orientam a vida do homem, enquanto que a inexperiência fá-lo caminhar ao acaso; deste modo, Polo considera a retórica uma atividade empírica.
Para Cálicles, a retórica são os “recursos oratórios”, ou seja, o orador considera a retórica como um jogo de argumentos cuja finalidade é a persuasão do auditório. Por fim, Polo, Cálicles e Górgias concluem, definitivamente, o que é para eles a retórica e chegam à conclusão de que esta se refere às “coisas belas”; que “a arte que cultiva é a mais bela de todas” e, que é escolhida pelos melhores, por ser a melhor das artes. É, além disso, considerada uma arte universal por Cálicles, na medida que este faz alarde da sua omnisciência, da sua capacidade de responder a todas as perguntas que lhe desejem colocar.
O grupo dos oradores acaba por não definir a retórica, mas por valorizá-la e, ao ser valorizada, é colocada no plano da subjetividade, o mesmo é dizer no plano da aparência (da aparente possibilidade de chegar à verdade). Em suma, verifica-se, já, uma oposição radical entre os processos e as finalidades dos oradores (retórica e persuasão) e os dos filósofos (dialéctica e verdade).
O diálogo entre Sócrates e Górgias começa naturalmente com a definição de retórica dada por este último. É verdade que Górgias inicialmente, define a retórica como a arte dos discursos, para além, de se glorificar de ser um “bom orador” (plano da valoração). É, nesta sequência que Sócrates vai perguntar a Górgias: “És capaz de formar outros oradores?” Para Górgias, ensinar implica tornar os discípulos 'hábeis em discursos” e, isto é, para ele formar envolve, por um lado, a fidelidade de um discípulo ao ensinamento do mestre, ainda que os ensinamentos sejam falsos e, por outro, formar implica ensinar a seduzir o auditório. Deste modo, Górgias vem sublinhar o fato da retórica não se interessar pela verdade, limitando-se apenas à aparência e à ilusão - “toda a sua ação e eficácia se realizam através das palavras”, ou seja, pelos discursos. Górgias, colocando-se no plano da valoração, refere que a retórica não se ocupa de todo o tipo de discursos, mas daqueles que têm por objecto “os maiores e as melhores coisas humanas”. Por isso, ela constitui “o maior de todos os bens” (objecto específico), que confere liberdade para o orador e domínio sobre os outros na cidade, que significa o poder de persuadir por meio do discurso os juízes no Tribunal, os senadores no Conselho e o povo na Assembleia.
Segundo as palavras do orador conclui-se que, ao ser obreira da persuasão, a retórica é uma prática autocrática e injusta, que influencia na aplicação da justiça, na produção da lei e persuade os cidadãos, que se tornam escravos do orador – “com este poder farás teus escravos o médico e o professor de ginástica (…)”. Esta fala evidencia o estado de decadência do regime democrático grego. Górgias dá-nos, também, a conhecer que o objeto da retórica, no plano da moral, é o “justo e o injusto”. Esta definição do objeto da retórica vai fazer com que Górgias entre em contradição e seja apanhado pela armadilha moral. De fato, Sócrates vai desenvolver um raciocínio lógico em que vai obrigar Górgias a aceitar as suas conclusões e a reconhecer o caráter contraditório do seu discurso.
Efetivamente, Górgias vai concluir que o homem justo tem de exercer a justiça e a retórica tem de praticar a justiça, desmentindo os princípios de que partira. Através da distinção entre crer e saber, a retórica, ao persuadir o auditório, se coloca no domínio da crença (o orador seduz o auditório, que fica com uma ideia geral das teses e é, assim, persuadido pelo seu discurso argumentativo). Se a retórica está associada à crença e se o orador é dotado de força e poder, esta pode ser caracterizada como uma arte competitiva. De fato, enquanto a filosofia (uma arquitetura de conceitos) nos remete para o plano da verdade e do Ser, a retórica situa-se no plano da aparência e é esta conclusão a que Sócrates chega: “Não precisa a retórica de conhecer a natureza das coisas, mas tão-somente de encontrar um meio qualquer de persuasão que faça aparecer aos olhos dos ignorantes mais entendida do que os entendidos”.
Finalmente, Sócrates elabora a sua definição de retórica, referindo que esta não é uma arte pois não implica o saber, logo pertence ao plano da crença; considera-a uma atividade empírica, visto que provém das experiências; afirma que esta visa apenas o prazer do corpo e da alma; e, por fim, reconhece-a não como sendo uma arte, mas como uma ocupação que desenvolve um espírito intuitivo e empreendedor, consequência da prática da persuasão na assembleia. Para além disso, a retórica afasta-se do território do Ser para se aproximar do plano da aparência.
Logo, aparentemente a retórica não pode ser um discurso moral nem um discurso lógico, sendo, portanto, simplesmente uma adulação. Para chegar a esta conclusão, Sócrates admitiu a existência de quatro tipo de arte: as relativas ao prazer do corpo (a ginástica e a medicina) e as relacionadas com a alma (do lado do bom, do belo e do justo), a legislação e a justiça. Considera, também, quatro tipos de adulação: as do corpo (toilette e cozinha) e as da alma (sofística e retórica). Em suma, através de comparações, constata-se que a retórica é uma espécie de "cozinha da alma", porque ela é para a alma o que a cozinha é para o corpo, ou seja, não procura a saúde nem a beleza verdadeira, mas apenas aparente, superficial e artificial, interessa-se pelo prazer imediato e pode ser a ruína da saúde. Deste modo, a retórica é “um disfarce” que não pode ser senão algo de feio “porque visa o agradável sem a preocupação do melhor”.
Por fim, as sucessivas concordâncias de Polo e o silêncio de Górgias em relação à argumentação do mestre da dialéctica são a melhor prova de que nada têm a opor a esta refutação de retórica, tal como eles a tinham apresentado: a retórica desprovida de preocupações no plano moral, a retórica como pura obreira da persuasão, que faz crer sem conhecer, que persuade e não ensina.
É a partir de 449 a que Górgias dá uma definição da retórica. Diz, por um lado, que «a [sua] arte é a retórica» e, por outro, que o objeto dessa arte é os discursos. Mas, o caminho que leva a esta definição da retórica por parte de Górgias merece ser contextualizado uma vez mais, a saber: trata-se de uma consequência do diálogo construído por Sócrates em torno de perguntas e respostas, a maiêutica socrática, que mais não é do que, enquanto ferramenta do pensar, o território da lógica (definição; dedução / demonstração) e, enquanto essência do pensar, o território da metafísica, a abertura do sendo ao Ser, através do desvelar que a verdade implica. De fato, a radicalidade da palavra filosófica, do logos, é sinônimo de coerência, de harmonia.
Sendo a arte de Górgias a retórica, sendo ele um orador, impõe-se lógica e metafisicamente esta questão de Sócrates: «és capaz de formar outros oradores?”. E impõe-se esta questão em dois planos: formar implica formar no uso do logos; em contrapartida, formar implica formar no desvelar do Ser que se alcança pela verdade. Não é isto, obviamente, o que entende Górgias. Para ele formar é tornar os discípulos «hábeis em discursos». Para ele formar é fazer com que os discípulos pensem «sobre aquilo que dizem». Ou seja, formar é formar o discurso do orador, formar é formar a persuasão do orador perante uma assembleia. Que, como já analisamos anteriormente, nada tem a ver com a verdade, mas sim com a ilusão, e nada tem a ver com o Ser, mas sim com a aparência. Górgias sublinha isto mesmo em: «toda a sua [da retórica] ação e eficácia se realizam através da palavra», através dos discursos. E, mais uma vez, Górgias não se apercebe da distinção que Sócrates vem tecendo. E, seguro da consistência dos seus argumentos, Górgias distancia cada vez mais o território da Filosofia do território da retórica, concretamente quando diz: «É a [retórica] que, na realidade, constitui o maior de todos os bens, proporcionando a quem a possui ao mesmo tempo liberdade para si próprio e domínio sobre os outros na cidade”. Mas Górgias vai ainda mais longe: «É a capacidade de persuadir pela palavra os juízes no Tribunal, os senadores no Conselho, o povo na Assembleia, enfim, os participantes de qualquer espécie de reunião política. E, aparentemente inebriado pelo peso da (sua) palavra, do (seu) discurso, ainda consegue ir mais longe: «Com este poder farás teus escravos o médico e o professor de ginástica [é a resposta de Górgias às analogias de Sócrates sobre a ação e a eficácia], e até o grande financeiro chegará à conclusão de que arranjou o dinheiro não para ele, mas para ti, que sabes falar e persuades a multidão”. Palavras de orador, mas também palavras de poder, do poder que atravessa a decadência da democracia ateniense. Um poder evidentemente autocrático, um poder evidentemente injusto – uma desarmonia social, portanto, uma vez que a liberdade está do lado do orador enquanto ao auditório só resta a submissão. Estranha liberdade esta, que irradia de um eu no ato de subjugar os outros. Mas, a palavra filosófica é capaz de trazer à luz (maiêutica) a verdade, como, de fato, é verdade esta súbita afirmação de Górgias: «(…) o seu [da retórica] objeto é o justo e o injusto», a harmonia e a desarmonia, a verdade e a falsidade, o Ser e a Aparência, e, assim sendo, quem poderá distinguir estes pares tão fechados na ilusão, tão fechados na crença? A resposta parece evidente: só a palavra filosófica, na sua radicalidade, o logos, é capaz de distinguir estes pares, porque a palavra filosófica não pertence ao território da crença, mas sim ao território do saber.
É o que conclui Sócrates: «Não precisa a retórica de conhecer a natureza das coisas, mas tão-somente de encontrar um meio qualquer de persuasão que a faça aparecer aos olhos dos ignorantes como mais entendida que os entendidos.».

terça-feira, 31 de maio de 2011

Inter-transdisciplinaridade e transversalidade


A Transversalidade

Os temas transversais dos novos parâmetros curriculares incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. São amplos o bastante para traduzir preocupações de todo País, são questões em debate na sociedade através dos quais, o dissenso, o confronto de opiniões se coloca.
Através da Ética, o aluno deverá entender o conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela necessidade de construção de uma sociedade justa, adotar atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando compreender os valores presentes na sociedade atual e em que medida eles devem ou podem ser mudados. Através do tema Meio-ambiente o aluno deverá compreender as noções básicas sobre o tema, perceber relações que condicionam a vida para posicionar-se de forma crítica diante do mundo, dominar métodos de manejo e conservação ambiental. A Saúde é um direito de todos. Por esse tema o aluno compreenderá que saúde é produzida nas relações com o meio físico e social, identificando fatores de risco aos indivíduos necessitando adotar hábitos de auto-cuidado. A Pluralidade cultural tratará da diversidade do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo a diversidade como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando toda forma de discriminação por raça, classe, crença religiosa e sexo. A orientação sexual, numa perspectiva social, deverá ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro.
Além desses temas, podem ser desenvolvidos os temas locais, que visam a tratar de conhecimentos vinculados à realidade local. Eles devem ser recolhidos a partir do interesse específico de determinada realidade, podendo ser definidos no âmbito do Estado, Cidade ou Escola. Uma vez feito esse reconhecimento, deve-se dar o mesmo tratamento que outros temas transversais.
Como trabalhar com os temas transversais? A transversalidade, bem como a transdisciplinaridade, é um princípio teórico do qual decorrem várias consequências práticas, tanto nas metodologias de ensino quanto na proposta curricular e pedagógica. A transversalidade aparece hoje como um princípio inovador nos sistemas de ensino de vários países. Contudo, a ideia não é tão nova. Ela remonta aos ideais pedagógicos do início do século, quando se falava em ensino global e do qual trataram famosos educadores, entre eles, os franceses Ovídio Decroly (1871-1932) e Celestin Freinet (1896-1966), os norte-americanos John Dewey (1852-1952) e William Kilpatrick (1871-1965).

A Interdisciplinaridade

O princípio da interdisciplinaridade permitiu um grande avanço na ideia de integração curricular. Mas ainda a ideia central era trabalhar com disciplinas. Na interdisciplinaridade os interesses próprios de cada disciplina são preservados. O princípio da transversalidade e de transdisciplinaridade busca superar o conceito de disciplina. Aqui, busca-se uma intercomunicação entre as disciplinas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum (transversal).
Assim, não tem sentido trabalhar os temas transversais através de uma nova disciplina, mas através de projetos que integrem as diversas disciplinas. Busca-se capacitar o professor para trabalhar nessa nova metodologia de ensino que consiste, basicamente no trabalho coletivo e no princípio de que as várias ciências devem contribuir para o estudo de determinados temas que orientam todo o trabalho escolar. Foi respeitada a especificidade de cada área do conhecimento, mas, para superar a fragmentação dos saberes procurou-se estabelecer e compreender a relação entre uma "totalização em construção" a ser perseguida e novas relações de colaboração integrada de diferentes especialistas que trazem a sua contribuição para a análise de determinado tema gerador sugerido pelo estudo da realidade que antecede a construção curricular.
O conceito de interdisciplinaridade, como questão gnosiológica, surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam-se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a totalidade do saber.
Desde então, o conceito de interdisciplinaridade vem se desenvolvendo também nas ciências da educação. Elas aparecem com clareza em 1912, com a fundação do Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, por Edward Claparède, mestre de Piaget. Toda uma discussão foi travada sobre a relação entre as ciências mães e as ciências aplicadas à educação: por exemplo, a sociologia (da educação), a psicologia (da educação) etc. e noções correlatas foram surgindo, como intradisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade.
A intradisciplinaridade‚ entendida, nas ciências da educação, como a relação interna entre a disciplina "mãe" e a disciplina "aplicada". O termo interdisciplinaridade, na educação, já não oferece problema, pois, ao tratar do mesmo objeto de ciência, uma ciência da educação "complementa" outra. Diga-se o mesmo quanto à pluridisciplinaridade. É a natureza do próprio fato/ato educativo, isto é, a sua complexidade, que exige uma explicação e uma compreensão pluridisciplinar. Dessa maneira a interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.
Após a 2ª Guerra Mundial, a interdisciplinaridade aparece como preocupação humanista além da preocupação com as ciências. Desde então, parece que todas as correntes de pensamento se ocuparam com a questão da interdisciplinaridade:
  1. A teologia fenomenológica encontrou nesse conceito uma chave para o diálogo entre igreja e mundo;
  2. O existencialismo, buscando dar às ciências uma "cara humana";
  3. O neo-positivismo que buscava no interior do positivismo a solução para o problema da unidade das ciências;
  4. O marxismo que buscava uma via diferente para a restauração da unidade entre todo e parte.
O projeto de interdisciplinaridade nas ciências passou de uma fase filosófica (humanista) de definição e explicitação terminológica, na década de 70, para uma segunda fase (mais científica) de discussão do seu lugar nas ciências humanas e na educação, na década de 80. Atualmente, no plano teórico, busca-se fundar a interdisciplinaridade na ética e na antropologia, ao mesmo tempo que, no plano prático, surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar. Visa assim, a garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento.
A interdisciplinaridade se desenvolveu em diversos campos e, de certo modo, contraditoriamente, até ela se especializou, caindo na armadilha das ciências que ela queria evitar. Na educação ela teve um desenvolvimento particular. Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre eles:
  1. Na noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe data marcada para aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na sala de aula.
  2. Na crença de que é o indivíduo que aprende. Então, é preciso ensinar a aprender, a estudar etc. ao indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto, uma relação direta e pessoal com a aquisição do saber.
  3. Embora apreendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade. O todo é formado pelas partes, mas não é apenas a soma das partes. É maior que as partes.
  4. A criança, o jovem e o adulto aprendem quando têm um projeto de vida e o conteúdo do ensino é significativo para eles no interior desse projeto. Aprendemos quando nos envolvemos com emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento. A biografia do aluno é, portanto, a base do seu projeto de vida e de aquisição do conhecimento e de atitudes novas.
A metodologia do trabalho interdisciplinar implica em:
  1. Integração de conteúdos;
  2. Passar de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento;
  3. Superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuição das diversas ciências;
  4. Ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a vida.
O conceito chegou ao final desse século com a mesma conotação positiva do início do século, isto é, como forma (método) de buscar, nas ciências, um conhecimento integral e totalizante do mundo frente à fragmentação do saber, e na educação, como forma cooperativa de trabalho para substituir procedimentos individualistas. A ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria positivista era compartimentada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola comunidade, meio-ambiente etc. tornou-se, nos últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola. Um projeto interdisciplinar de educação deverá ser marcado por uma visão geral da educação, num sentido progressista e libertador. A interdisciplinaridade deve ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e moral. Nesse sentido, a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo do que serve a ele. O construtivismo é uma teoria da aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interação entre o sujeito e o meio. Nessa teoria o papel do sujeito é primordial na construção do conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a interdisciplinaridade.


O Método de Projetos de William Kilpatrick

O Método de Projetos foi criado pelo norte-americano William Kilpatrick (1871-1965) baseado nas ideias de John Dewey (1859-1952). Em setembro de 1918, uma das mais importantes revistas de educação, Teachers College Recort, divulgou um artigo no qual este autor explica e denomina o “Método de Projetos”. Tal proposta caracteriza-se como uma forma de integração curricular e preocupa-se com o “interesse” que deve acompanhar o trabalho pedagógico de modo a suscitar no aluno a vontade de saber. O embasamento teórico de Kilpatrick estava fundamentado nos estudos de uma “escola ativa” de John Dewey. A dimensão socializadora das propostas curriculares foi a grande impulsionadora do Método de Projetos.
Naquela época os conceitos científicos não eram construídos com os alunos, que deveriam memorizar os conhecimentos “aprendidos”. Deste modo, não proporcionavam uma melhor inserção e participação das crianças em seus ambientes de circulação. De acordo com Santomé (1998, p. 204), “o principal ponto de partida do método de projetos deriva da seguinte filosofia: por que não fazer dentro da sala de aula o que se faz continuamente na rua, no ambiente virtual verdadeiro?”. Assim, continua este autor, “o método de projetos desenvolve-se com a finalidade de resolver os problemas de meninos e meninas em suas vidas cotidianas, como construir uma cabana, preparar uma festa local, construir uma pequena horta, proteger e ajudar um animal ferido, etc.”
Kilpatrick destaca três questões indispensáveis para o planejamento dos Projetos:
1- Como se realiza a aprendizagem;
2- Como a aprendizagem intervém na vida para melhorá-la;
3- Que tipo de vida é melhor.
Para Kilpatrick, não basta a atenção, é necessário também a intenção, pois esta torna o educando agente que prepara e executa. O projeto consiste em atividade intencionada em que os próprios alunos fazem algo num ambiente natural, integrando ou globalizando o ensino. Por exemplo, através da construção de uma casinha de coelhos, podem ser ministrados vários ensinamentos: geometria, desenho, cálculo, história natural, etc.
Há projetos que podem durar apenas algumas horas, como: redigir um ofício, preparar um programa para uma festa escolar, organizar um jogo, experimentar alguma coisa de novo, como ouvir uma história, um trecho de música, apreciar uma pintura. Projetos existem que são mais complexos, como o projeto do Banco, que implica em uma série de projetos menores, como: o estudo de juros, a noção de câmbio, a redação de cartas, a visita a um grande banco da cidade, a instalação material da sede, etc., que ocupou a classe por todo um semestre.
Alguns aspectos dos projetos destacados pelo autor:
a) Não existe passos formais, ordem pré-estabelecida, nos projetos. Existe contudo uma sequência natural de passos: imaginar alguma coisa, projetá-la claramente, recorrendo à informação e à pesquisa, executá-la e julgá-la.
b) Convêm que os projetos sejam propostos pelos próprios alunos e orientados pelo professor. Se não houver iniciativa da classe, o professor fará propostas.
c) O projeto implica ensino globalizado. Não há disciplinas isoladas.
d) O projeto conduz ao trabalho em comunidade. A tarefa nunca é de um só, mas de toda a classe ou de grupos.
e) Proposto o trabalho, o professor torna-se um conselheiro discreto, atendendo solicitações, encaminhando, estimulando neste ou naquele ponto. Orientar sempre, sem contudo impor ou inibir iniciativas.
f) O sistema de projetos não oferece desculpas para a indulgência ou mero capricho dos alunos, nem justificações para a indisciplina ou desculpa para o trabalho descuidado.
O Método dos Projetos de Kilpatrick parte de problemas reais, do dia-a-dia do aluno. Todas as atividades escolares realizam-se através de projetos, sem necessidade de uma organização especial. Originalmente ele chamou de projeto à "tarefa de casa" ("home project") de caráter manual que a criança executava fora da escola. O projeto como método didático era uma atividade intencionada que consistia em os próprios alunos fazerem algo num ambiente natural, por exemplo, construindo uma casinha poderiam aprender geometria, desenho, cálculo, história natural etc. Kilpatrick classificou os projetos em quatro grupos:
a) de produção, no qual se produzia algo;
b) de consumo, no qual se aprendia a utilizar algo já produzido;
c) para resolver um problema;
d) para aperfeiçoar uma técnica.
Quatro características concorriam para um bom projeto didático: a) uma atividade motivada por meio de uma consequente intenção; b) um plano de trabalho, de preferência manual; c) a que implica uma diversidade globalizada de ensino e d) num ambiente natural.
Como trabalhar com projetos? Projeto vem de projetar, projetar-se, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar um projeto é o mesmo que elaborar um plano para realizar determinada ideia. Dessa forma, um projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta. Dificilmente os integrantes de uma escola escolherão trabalhar num projeto da escola se ele não foi a extensão de seu próprio projeto de vida. Trabalhar com projetos na escola exige um envolvimento muito grande de todos os parceiros e supõe algo mais do que apenas assistir ou ministrar aulas.
Além do conteúdo propriamente dito de cada projeto, conta muito o processo de elaboração, execução e avaliação de cada projeto. O processo também produz aprendizagens novas. "A própria organização das atividades didáticas deve ser encarada a partir da perspectiva do trabalho com projetos. De fato, respostas a perguntas tão frequentemente formuladas pelos alunos, em diferentes níveis, como: Para que estudar Matemática? E Português? E História? E Química?" Não podem mais ter como referência o aumento do conhecimento ou da cultura, ou ainda, mais pragmaticamente, a aprovação nos exames. A justificativa dos conteúdos disciplinares a serem estudados deve fundar-se em elementos mais significativos para os estudantes, e nada é mais adequado para isso do que a referência aos projetos de vida de cada um deles, integrados simbioticamente em sua realização aos projetos pedagógicos das unidades escolares.


Algumas acepções da palavra Logos


O termo logos (do grego legein, do latim verbum), é conceito central da filosofia grega. Possui inúmeras acepções em diferentes doutrinas filosóficas, variando às vezes no pensamento de um mesmo filósofo e é, talvez, o mais importante de todo o vocabulário filosófico, mas, não pode ser traduzido facilmente porque contém uma pluralidade de significados ligados entre si. Na língua grega clássica equivale a palavra, verbo, enunciado, definição, discurso, explicação, cálculo, medida, avaliação, razão, causa, pensamento, necessidade, e outros mais. Supõe-se que em seu sentido etimológico originário de reunir, recolher, está contido o caráter de combinação, associação e ordenação do logos, que dá sentido às coisas.
Logos, no grego, ora significando inicialmente a palavra escrita ou falada — o Verbo. Mas a partir de filósofos, como Heráclito, passa a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico de ordem e beleza. Com Sócrates tem-se, por exemplo, o termo logos como palavra, conversa, e em outro sentido, passa a significar a razão que se dá a algo, é a razão dada ao mesmo, mais propriamente conceito.
Então: O que é logos? A terminologia do logos tem um sentido polissêmico? Quais os sentidos do logos?

1) Primeira parte: mýthos e logos
Jean-Pierre Vernant, busca esclarecer a importância e o lugar do logos alethés (palavra sagrada) anterior à sua transformação, por assim dizer, em logos filosófico. A fundamental questão é a de quando, como e porque se dá a separação entre o mýthos e logos?
O mito, faz parte da psyché humana, é um modo de ler o mundo, não é irracional, como querem alguns. A palavra irracional, hoje, é extremamente pesada para explicar o pensamento mítico; afinal, ele é um pensamento bem estruturado, porém sem necessidade de provas, de argumentos. Seu valor de verdade não é aferido por sentenças, não se trata somente da linguagem, do logos como discurso argumentativo, pois a psyché é bem mais extensa que a criação do pensar-dizer na forma sentencial. Ambas as palavras, mýthos e logos, têm praticamente a mesma origem e uso iniciais, mas, após ocorrer uma diferenciação no uso, o mýthos fica vinculado às narrativas acerca dos deuses, e o logos, reveste-se do aspecto lógico da filosofia. Mas onde está a verdade (aléthea)? No mito ou no logos? Segundo Vernant: a verdade (aléthea), não pode ser separada da ordem ritual, da prece, ou do direito, ou ainda, da potência cósmica. Sendo o Logos alethés - palavra divina e verdadeira, dispõem dela, os basileus (reis), os sacerdotes (advinhos) e os aedos (poetas), sendo que estes últimos, as recebem diretamente da divindade, mediada pelas Musas, filhas de Zeus e Mnemosyne. Inspiram o poeta ditando-o ao seu ouvido, fazendo dele um mero porta-voz do divino (théos). Logo, mýthos é da ordem do legêin, como indica o composto mythologêin, mythología, e não contrasta inicialmente com logoí, termo cujos valores semânticos são vizinhos e que se relacionam às diversas formas do que é dito. Num determinado estágio da sociedade grega, os dois conceitos, mýthos e lógos, não apresentam grandes diferenças entre si. E a palavra formulada no contexto de uma narrativa sagrada como a Teogonia que narra a origem dos deuses, por Hesíodo, tanto pode ser considerada mýthos como hiéros lógos (discurso ou palavra sagrada). Só muito mais tarde essas palavras do vocabulário épico caem em desuso e são praticamente substituídas por lógos e legêin. Ao que parece, é esse processo de substituição que gera a ideia posterior de oposição entre mýthos, que fica associado aos hiéroí logoí, e lógos, que passa a ser associado à Filosofia.
Para melhor compreender o fenômeno comum ao processo de evolução linguística, onde há ambiguidade lexical, ou seja, a palavra tem mais de um significado, a palavra lógos, contribui para isso, por exemplo, o seu uso no âmbito das matemáticas e da teoria da música dos pitagóricos, uma vez que o significado original do termo mythologêin (reunir, contar) é mais apropriado aos números. O significado originário da palavra reunir, contar, remete ao âmbito racional dos números e das relações entre números no qual o conceito de lógos se constitui pela primeira vez. A partir desse contexto se generaliza a palavra lógos como conceito contrário a mýthos. Em oposição àquilo que refere uma notícia que se sabe somente graças a uma simples narração, ciência é o saber que repousa sobre a fundamentação e a prova.
Observa-se nessa primeira parte, de que com o tempo, as duas palavras: mito e logos passam a ser utilizadas em oposição: uma, dado o uso associado à épica, passa a designar as narrativas sobre os deuses; outra passa a ser usada para designar a palavra do filósofo que, em oposição à narrativa sagrada, é objeto de reflexão e, eventualmente, até de comprovação. Desvincula-se, assim, a palavra que discorre acerca do ser e das coisas, a palavra-movimento, da palavra que simplesmente narra a história dos deuses como um fim em si mesma.

2) Segunda parte: o logos como discurso, razão, definição, faculdade racional, proporção
Uma das maiores dificuldades na interpretação do logos é: Como determinar quando é que esta palavra grega comum e amorfa está a ser usada num sentido técnico e especializado? Por isso, Heráclito, no qual desempenha pela primeira vez papel de relevo, a emprega frequentemente no seu uso comum, mas também tem uma doutrina especial que se centra em volta do logos num sentido mais técnico: para ele o logos é um princípio subjacente e organizador do universo, relacionado com o significado comum de logos como proporção (DK 1, 50), a lei da mudança tão frequentemente associada ao pensamento de Heráclito (DK 60, 111). E esta harmonia que é na realidade uma tensão de opostos não deve ser entendida no sentido de um retorno cíclico, mas sim como um estado estável (DK 10, 50). Este princípio do lógos, embora seja oculto e perceptível apenas para a inteligência (DK 54, 114), é ainda material, como se pode ver pela identificação do logos heraclitano com o fogo cósmico (DK DK 41, 64), e a sua descrição do processo de pensar (DK 16, 22). Platão também usa o termo logos de vários modos, no Fédon salienta, como característica do verdadeiro conhecimento (episteme) a capacidade de fazer um relato (logos) daquilo que se sabe.
No Teeteto este aspecto do logos está incorporado na definição de episteme: opinião verdadeira (doxa) acompanhada de um relato. Sócrates discute o que significa logos neste contexto, e da sua análise emerge uma descrição do logos, como a afirmação de uma característica distintiva de uma coisa. A vitalidade deste, é negada com fundamento no fato de não ter valor no caso dos seres sensíveis individuais. Mas, quando esta concepção do logos sobe na escala platônica do ser tem obviamente um papel a desempenhar; Platão descreve o dialético (dialektike) como aquele que pode fazer um relato (logos) do verdadeiro ser (ou essência, ousia) de alguma coisa, é, o termo do processo da divisão (diairesis) descrito no Sofista, a definição (horos) aristotélica por gêneros e espécies; na verdade, Aristóteles usa frequentemente logos como sinônimo de horos, horismos.
Outro uso típico aristotélico, é o logos como razão, racionalidade, particularmente num contexto ético. Também entende o logos como proporção matemática, ratio, uso que remonta provavelmente aos pitagóricos, se bem que não esteja claramente expresso nos seus fragmentos. E, ainda, para a aplicação do logos como proporção ao problema das misturas, holon; para a sensação e o órgão dos sentidos, aisthesis; e, em geral, meson. Na língua grega, discurso se diz logos, a mesma palavra da qual deriva a palavra lógica. Logos é palavra, discurso, argumento e, porque é pelo discurso que enuncia-se aquilo que se pensa, logos é, também, consideração, avaliação, reflexão e juízo (discernimento), ou seja, a capacidade de pensar racionalmente. Logos, também, pode ser traduzido por razão — e assim, em nada perde-se para a definição que aprendemos na escola.
Neste parágrafos, discorre-se fundamentalmente, que para um grego, estas duas coisas são inseparáveis: o discurso para ser produzido depende da razão tanto quanto a razão só se desenvolve no discurso. Mas, ainda há um outro sentido para a palavra logos, assim como para a palavra razão: medida, cálculo, relação, ordem e, por extensão, fundamento, razão-de-ser de algo. Não se trata apenas das capacidades de pensar e de falar. Existe razão nas coisas, quando apresenta-se o porque e as causas delas serem o que são.

3) Terceira parte: logos pessoa divina
O ponto de partida estoico sobre o logos é a doutrina heraclítana de uma fórmula de organização totalmente universal, que os estoicos consideram divina (namos). O logos é a força ativa (poioun) no universo, criadora à maneira do esperma – logoi spermatikoi. Tal como em Heráclito é material e identificado com o fogo (pyr). É também idêntico à natureza (physis). Esta presença que enforma o universo desenvolve-se em várias direções. Quais? Visto que, é uma unidade serve de fundamento à teoria da simpatia cósmica (sympatheia) e da lei natural, bem como ao imperativo ético – viver de acordo com a natureza (nomos). A teoria linguística estóica distingue ainda o logos interior (= pensamento) e o logos exterior (= discurso).
Fílon conhece a distinção entre o logos interior e o exterior, e consegue aplicá-la à maneira ortodoxa estóica (De vita Mos. II, 137), e é, talvez, esta distinção, juntamente com a tradição escrituraria judaica acerca da Palavra de Deus, que o leva ao novo tratamento do logos. No primeiro caso o logos é a razão divina que abarca o complexo arquetípico dos eide que serve de modelos da criação. Depois, este logos que é espírito de Deus, é exteriorizado na forma do kosmos noetos, o universo apreensível só para a inteligência. É transcendente e é Deus, embora não o Deus, mas antes o Filho mais velho de Deus. Com a criação do mundo visível (kosmos aisthetos) o logos começa a desempenhar um papel imanente como a marca da criação, o elo do universo estoico. Fílon difere dos estoicos ao negar que este logos imanente é Deus; para o papel providencial do logos de Fílon, ver pronoia. Fílon dá ao seu logos um papel distinto na criação: é a causa instrumental; é também uma luz arquetípica, reaparece esta última imagem em Plotino, (Eneadas III). Mas, há uma diferença entre os dois pensadores; o que em Fílon é tanto o logos como o nous é dividido em Plotino que usa o conceito de logos de um modo afim aos logoi spermatikoi estoico; onde o nous e o logos são diferenciados.
Logos significando discurso, palavra (verbo), palavra dotada de sentido. O nome transfere-se em seguida ao próprio sentido, ao conceito, ao conteúdo do pensamento, ao verbo interior, que tem sua expressão no verbo exterior, na palavra externa. De modo particular, denomina-se o logos o conteúdo que dá a razão de alguma coisa. Por vezes, denomina-se também logos a esfera integral dos pensamentos, das ideias, do espírito, em oposição à esfera do ente material ou vida orgânica, corporal, ao bios, ou para a distinguir da esfera das ações morais, do ethos; nesta acepção, o termo logos é empregado, quando, por exemplo: se fala da primazia do logos – tudo quanto pertence a este domínio do pensamento pode denominar-se lógico em sentido lato.
Contudo, as mais das vezes, o termo é empregado em sentido estrito, para designar as relações puramente mentais dos conteúdos do pensamento entre si, relações exclusivamente oriundas da maneira abstrata de pensar e que, por tal motivo, não encontra-se na esfera dos existentes, mas são meros entes de razão, exemplificando: a identidade entre o sujeito e o predicado; o lógico, tomado neste sentido, constitui o objeto da lógica. O próprio pensamento denomina-se lógico, quando guarda as leis estabelecidas pelas citadas relações dos conteúdos do pensamento; no caso contrário, é ilógico. Pelo contrário, o qualificativo alógico usa-se com o significado de alheio ao pensamento, à mente; assim, são alógicos os sentimentos e tendências, enquanto se subtraem à direção da inteligência (irracional). Logos designa, também, a ideia ínsita, por assim dizer, na realidade, e até no mundo corpóreo, ou seja, a configuração e forma das coisas determinada pelas ideias, a estrutura plenamente significativa que lhe é imanente.
Devido a esta estrutura e ordem, providas de sentido, o mundo físico converte-se em cosmos, em oposição a um caos absurdo. O termo logos adquire este sentido, quando fala-se da estrutura lógica da realidade (verdade). — O mundo das ideias não tem existência em si mesmo, mas só num ser real intelectual; de modo idêntico, a estrutura inteligível do mundo físico pressupõe um fundamento primitivo real dotado de inteligência. Este fundamento primitivo intelectual do universo, que em si contém todas as ideias, recebe, igualmente, na filosofia antiga, o nome de logos. Heráclito e os estoicos entendem este logos como uma razão universal que penetra e domina tudo (alma do mundo). No cristianismo, sob a influência do estoicismo e através do neo-platonismo, o logos, traduzido para o latim como verbum é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. É o Filho, ou Jesus. Mas, também, o verbo (ou a Palavra) é um tipo de instrumento ou de ajudante, que Deus utiliza para criar o Mundo, conforme se lê no Evangelho de São João: “no principio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus; e o Verbo se fez Carne e habitou entre nós.”
Nesta parte, demonstra-se que para alguns o logos é um ser intermédio entre Deus e o mundo, mediante o qual este foi criado por Deus. S. João Evangelista, no limiar de seu evangelho, contrapõe a ambas as concepções a doutrina cristã do Filho de Deus, essencialmente igual ao Pai e, não obstante, feito homem, ao qual, — aceitando com audácia inaudita a velha expressão grega – chama logos, o único logos verdadeiro. Desde Santo Agostinho, a teologia católica encontra a explicação do nome de logos, no fato de o Filho ser gerado pelo Pai pela via do conhecimento; no Filho, como Verbo ou Palavra do Pai, expressa Este sua essência total e a plenitude de suas ideias.

4) Quarta parte: alguns sentidos e/ou significados do logos derivados de leggein
Logos, que pode derivar de legein (falar ou reunir). É possível que sua origem, derivada de reunir, recolher, tenha lhe dado o sentido, ou o significado, de ser uma combinação, uma associação, e/ou uma ordenação ou organização. Afinal, quais são características ou funções que geralmente se atribui ao logos? Pois, o objetivo da lógica é ordenar, organizar o que antes era disperso e confuso. Como dito acima, em Heráclito já se encontram quatro significados diferentes, mas inter-relacionados, que o termo logos tem na Filosofia posterior. A saber: Como Principio ou Lei Cósmica, ou divina. Sendo a racionalidade do real; isto é, o termo logos indicando que a realidade está ou é de acordo com a racionalidade. Com as leis que regem o raciocínio coerente. O espírito ou a alma do fogo, que para Heráclito, é o elemento (terra, ar, água, fogo) primeiro, primordial, do qual todos os outros derivam. Significando a razão ou o raciocínio ou a racionalidade humana cuja serventia é a de proporcionar a capacidade de entender a realidade.
Na sequência são expostos mais alguns dos significados que o termo abriga: Para Platão, logos é a definição ou uma sentença predicativa (ou frase que contém um adjetivo) que expressa, ou menciona, uma qualidade essencial de algo; ou seja, esse algo não poderia sê-lo se não ter essa qualidade. Em Aristóteles, logos é a sentença (ou a frase que contém uma afirmação ou uma negação sobre o objeto a que se refere) que pode ser verdadeira ou falsa e que expressa (através da fala ou escrita ou da pintura etc.) o pensamento sobre algo. Disso, aliás, é que surge a expressão: logos apophantikós = aquele que manifesta (que mostra, ou revela) algo.
Em Filosofia a Lógica é o estudo da Estrutura (ou do arcabouço e da natureza) e das bases de uma argumentação (ou dissertação, isto é, a defesa de um ponto de vista) considerada válida; principalmente, se tal argumentação é fruto de uma inferência dedutiva (ou deduzida) e acontece após ter seguido normas e procedimentos considerados verdadeiros e válidos. E, claro, após ter sido submetida a testes ou provas que constataram sua exatidão.
Aqui, percorre-se rapidamente a análise de alguns significados da racionalidade do real e o da lógica, onde: o pensamento lógico é aquele que segue determinados critérios, regras e/ou normas (tidas como válidas) para ser formulado e que, por isso, torna-se confiável e, em certa medida, com resultados previsíveis. Pensamentos oriundos dessa maneira de refletir também são chamados de racionais. De certo modo, a lógica pode ser considerada como um padrão que indica como deve ser o comportamento da razão, ou da racionalidade. Considerando o exposto no direcionamento das inferências dos itens acima, pode-se obter as teses de que não se pode pensar que há oposição de sentido entre esses termos, pois tanto os lógoi, os mýthoi podem ser portadores da verdade (aléthea). O logos, o termo tem uma conotação ontológica, e não exclusivamente lógica, na medida em que a mesma designação nominativa – logos – é tomada por algo empiricamente indefinido e inacessível. Na lógica, – lógica é um conceito derivado de logos, e pode ser comparado com a marcha coerente de pensamentos que obedecem aos critérios de ordem, organização, cronologia e congêneres.