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domingo, 31 de julho de 2011

O sintoma e suas relações em Freud

Carlos Eduardo da Silva Faria
Prof. Dt. Augusto Bach
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO


Este texto dissertativo tem a finalidade de abranger a definição de sintoma, sua relação com a noção de trauma sexual e o mecanismo de defesa a ele associado.
No início da história da psicanálise, Freud na obra intulada Estudos sobre a histeria (1895) –, em conjunto com Dr. Josef Breuer, descrevem o procedimento terapêutico de tratamento catártico relacionado com a hipnose. Trata-se da descarga ou redução emocional de afetos retidos no inconsciente, pelo avivamento e verbalização de uma representação esquecida, geralmente relacionada com algum cenário traumático. Em outras palavras, na 1ª Tópica – pode-se inferir como o princípio de prazer/desprazer requerendo homeostase (estado de equilíbrio orgânico). Donde o princípio do prazer é idêntico a descarga ou redução de quantum de energia (libido), essa sensação ou sentimento o aparelho psíquico descarrega o excesso de energia. No desprazer é o aumento de energia, de tal forma que o excesso de energia acarreta a formação de sintomas à diagnosticar uma doença mental, ou seja, uma energia não canalizada ou estrangulada – não ob-reagida. Freud se interessa por esse método e, posteriormente aponta suas delimitações.
A psicanálise, até então, entendida como arte interpretativa, uma nova técnica que modifica o quadro geral do tratamento. A esse novo método o autor denomina de psicanálise. Assim, inaugurada a psicanálise em substituição ao método da hipnose: “[...] Quanto mais cuidadosamente a procura era feita, mais extensa parecia ser a rede de impressões etiologicamente significantes, mas retrocedendo, do mesmo modo, iam elas pela puberdade ou infância do paciente.” (Freud, Dois Verbetes, p. 256).
Logo, com efeito, analisando o exerto acima, com Ana O., Freud inaugura o tratamento talking cure (cura pela fala) – é a regra técnica fundamental da associação livre, ou seja, falar tudo o que lhe veem a boca, cumprir a associação livre, o falar sem muita crítica [falar uma besteira significante], isso permite um melhor acesso empírico. A associação livre se manisfesta de forma emprírica ao abrir-se do inconsciente. O médico, deve aprender o curso do inconsciente do paciente com o seu próprio inconsciente – não analisa conforme sua consciência, torna o inconsciente, consciente. A significação está oculta no paciente e, cabe a tarefa à psicanálise fazer do discurso inconsciente, um discurso explícito.
Como outra novidade, agora esta de origem clínica, se dá na visão freudiana, pela significação etiológica (grosso modo – busca das causas) da vida sexual, de maneira que por suas investigações, Freud deduz que os sintomas histéricos pareciam derivar de experiências traumáticas; cintando o autor: “[...] Quanto mais cuidadosamente a procura era feita, mais extensa parecia ser a rede de impressões etiologicamente significantes, mas retrocedendo, do mesmo modo, iam elas pela puberdade ou infância do paciente.” (Freud, Idem p. 260). Assim, as pertubações nervosas em geral são expressões de distúrbios referente a vida sexual, um simples caso comum de nervosismo pode ocultar e ser remontado a um trauma sexual.
Por esse viés, a psicanálise inicia com Freud, suas investigações pelo estudo sobre as neuroses e dos sintomas. Sendo as neuroses, manifestações conflitantes entre o eu (ego) e as pulsões (impulsos ou instintos [a forma de manisfestar a sexualidade] – fonte de sua energia Trieb), que, por serem não compatíveis eticamente com o ego, são reprimidos, recalcados, ou seja, são impedidas se tornarem conscientes, sofrendo, por conseguinte o afastamento à possibilidade de desejo e ou satisfação. Por sintoma, em psicanálise pode ser entendida como uma manifestação de um conflito inconsciente.
Esse recalcamento, não se sustenta, pois a libido (desejo sexual), totalmente insatisfeita e reprimida pelo ego, busca alternativas, outras vias de satisfação, seguindo saídas indiretas do inconsciente. Faz a libido um caminho de regressão a fases do desenvolvimento infantil e a atitudes anteriores para com os objetos, onde existem os pontos de fixações infantis, irrompendo na consciência, obtendo satisfação. Como resutado aparece um sintoma e, consequentemente, uma satisfação sexual substitutiva para desejos sexuais não realizados, um suprimento de algo que foi censurado e afastado pelo recalcamento.
Sendo assim, os sintomas da neurose podem ser apresentados como uma satisfação compensadora de algum desejo sexual ou como uma regra de impedimento dessa satisfação e, mostrando duas forças que entraram em conflito, por um lado a libido insatifeita e de outro a força repressora do ego que age como agente crítico e moralizador. Dessa maneira, ao romper o recalcamento, a libido ao encontrar as tais fixações infantis, que, por ocorrerem numa época de desenvolvimento incompleto das experiências do início da vida sexual, época esta marcada pelo estado de desamparo e dependência totais –, são capazes de ter efeitos traumatizantes.
Logo, a relação com a noção de trauma sexual e o sintoma pode ser entendida, primeiramente como a expressão do recalcado. O trauma é a base da realidade e, esta realidade Freud denomina complexo de castração. Por castração, ou melhor complexo de castração – denota como resposta aos afetos contidos nas defesas contra os desejos psíquicos do complexo de Édipo. Os meninos receiem, pela fantasia, levar a castração como realização da figura ameaçadora paterna, pela rivalidade e hostilidade que eles mesmos sentem em relação ao pai e pela culpa secundária do desejo incestuoso e parricida que sentem pelo objeto mãe. Desse fato, transcorre uma intensa angústia que os introduz ao mundo das normas proibitivas, abrindo assim o caminho para o seu desenvolvimento socializado – é um corte radical na pulsão. Em meninas, a ausência do falo é sentida como um estrago sofrido, uma falta importante por elas negada e, que buscam compensação ou reparação de alguma maneira.
Mas, pelo avanço de suas investigações, o autor conclui que o trauma é deduzido, que leva-o ao abandono de tal teoria, dedicando-se a concepção da teoria da fantasia, em que o ato traumático é parte da realidade psíquica do indivíduo e sustentáculo da fantasia. O sintoma aqui é tido como a realização de uma fantasia de cunho sexual do indivíduo, representada total ou parcialmente, derivada de suas pulsões. Basta a libido quando necessitar retirar-se às fantasias, para encontrar todas as suas fixações recalcadas. Freud ao ouvir o discurso do neurótico, a partir do discurso da histérica, coloca que o sintoma tem um sentido, um sentido inconsciente, em outras palvras, o sintoma diz alguma coisa, mesmo que o paciente não saiba disso.
Nos anos 1920, com a introdução da 2ª Tópica – para além do princípio do prazer, Freud demonstra a impossibilidade de uma satisfação (gozo) de ser representada, mostrando a dificuldade das problematizações psíquicas expressadas no sintoma.
O sintoma é apresentado na visão freudiana como uma consequencia do processo de recalcamento. O ego parte organizadora do aparelho psíquico e controladora do id (isso – fonte das pulsões), demonstra força ao reprimir, mas, ao revés nesse mesmo momento mostra fragilidade, como consequência dessa repressão, surge um sintoma, onde a libido reprimida e insatisfeita encontra a satisfação sexual substitutiva. O sintoma, também inferido como uma via indireta de satisfação pulsional, sentida como via de sofrimento e geradora de angústia e, por conseguinte desprazer. Nesse cenário, a angústia que sente o ego, motivo de desprazer que o faz a colocar-se ou pôr-se em posição de defesa, desprendendo o recalcamento e a formação dos sintomas.
Sob a acepção dos mecanismos de defesa, aqui entendendo-se como de dois tipos: psicopatológicas e normais (consciente ou inconsciente), correlato ao trauma sexual, Freud contempla de que pode-se inferir à todas as técnicas que se serve o ego contra os ímpetos reclamados pelos impulsos, bem como representações sensíveis e afeições desagradáveis. Cabe ressaltar que as lembranças que desencadeiam a defesa normal nunca são retiradas da consciência tão integralmente não permitindo serem despertadas por uma nova percepção. Já a histeria, contudo, as percepções que deveriam originar as recordações recalcadas despertam, surgindo no lugar desta, algum símbolo da mesma, como a histeria compulsiva.
Em suma, as sensações corporais, ansiedade, medo, obsessão, ritos, descontrole, alucinações são exemplos de sintomas e, a causa dos mecanismos defensivos se fundamentam na angústia, adquirida e que se desenvolve desde o momento traumático do nascimento, estabelecendo-se como um sinal de perigo para as reações de defesa do ego. A angústia é a reação a esse perigo e o sintoma é criado para evitar o surgimento do estado de angústia; e a repressão explicada como caso especial de defesa.