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sábado, 20 de agosto de 2011

Secularização e as visões de mundo


Os secularizados não devem negar potencial de verdade a visões de mundo religiosas.”

por Jürgen Habermas

Portanto, no que tange o fenômeno moderno da secularização, pode ser entendida como sendo um conjunto de fatores que através dos quais a religiosidade perde a sua influência sobre as diversas camadas sociais. Perda esta de influência repercutindo na sociedade, na cultura e, primordialmente, na desvalorização das crenças e nos valores a ela associados. A crescente pluralidade religiosa contribui, em parte, para o fenômeno da secularização, ao dar um sentido absoluto a crença. A secularização, por esse viés, conjuntamente com este pluralismo religioso, atua, também sobre a consciência religiosa individual, possibilitando a cada indivíduo a composição de sua própria natureza ou identidade religiosa. Nessa medida, a secularização afeta nas possibilidades da relação da modernidade com o religioso.
Logo, na tentativa de se abrir defesa para o potencial de verdade das religiões e sua participação na esfera pública, está conjeturado nessa representação que a religião é um tipo de conhecimento que não apresenta motivos para seus posicionamentos, mas que foi forçada a isso pela secularização. Mas, a insistência na necessidade de que a linguagem religiosa se traduza numa linguagem universalmente abordável se mostra imprescindível. Reafirmando, que a delimitação da existência da linguagem religiosa na esfera pública, já que as verdades religiosas devem ficar alheias das deliberações institucionais do poder público.
A condescendência à participação da verdade religiosa se faz apenas na medida em que a mesma é traduzida para a linguagem laica que os pressupostos dessa linguagem não sejam particulares e que sejam de domínio público, e não de uma possível imparcialidade do Estado em relação à religião.
Numa aproximação da modernidade e religião e, consequentemente, para uma proximidade de crentes e não crentes, vê-se a importância da dismissificação de possível quantificação da carga política colocada sobre ambos, pois destes se requer uma mudança de mentalidade.
Do ponto de vista filosófico, a religião e o secularização são duas disposições extremadas que devem ser declinadas na extensão da atividade pública –, enquanto posições distinguidas, tornam-se apenas concepções de mundo que devem ser sobrelevar-se por uma consciência laical de se viver em uma sociedade, por assim dizer pós-secularizada, ou seja, viver conscientemente numa sociedade pós aparição dos laicos e do laicismo [este, que filosoficamente defende e promove a separação do Estado da religiosidade, assim como a neutralidade ideológica do Estado em matéria religiosa].
Na medida em que, tal neutralidade ideológica do poder do Estado que visa a garantia a todos os cidadãos as mesmas liberdades éticas é incompatível com a generalidade política de uma concepção do mundo secularizada. Em seu papel de cidadãos do Estado, os cidadãos oriundos dessa nova ordem a secularização –, pela qual a religião deixa de ser o aspecto cultural agregador, não podem nem objetar, inicialmente, a possibilidade potencial de verdade das visões religiosas do mundo, nem se opor aos demais cidadãos crentes o direito à contribuição para as discussões públicas fazendo uso de uma linguagem religiosa.
Por fim, numa sociedade chamada pós-secular é a que garante a liberdade religiosa e o pluralismo de imagens de mundo, mantendo a separação entre a linguagem dos religiosos e não-religiosos; separando a linguagem metafísica, dos da pós-metafísica, apenas no âmbito das deliberações públicas, em função que os conteúdos dessa virada linguística, seja inferior ou superior em racionalidade aos conteúdos da outra ala.
Assim, uma concepção pós-metafísica de secularização deveria, simplesmente, dar cabo da necessária separação entre instituições religiosas e instituições públicas, e não tentar separar religião e política como esferas inconciliáveis da práxis e do conhecimento humano. Sendo assim, mostra-se necessário submeter um deslocamento da concepção de secularização –, racionalização ou desencantamento do mundo, movendo-o das esferas do ser e do saber à esfera do exercício diretivo do poder público.